Escrever tem sido um ato mais introspectivo do que político. Tenho me permitido dar mais importância a uma escrita "molecular". Não que eu tenha sucumbido de vez ao individualismo. Tentar compreender o que está acontecendo com a humanidade e fazer alguma coisa com isso ainda é a referência. No entanto, toda essa gritaria parece fustigar qualquer efeito possível das razões coletivas. Sobra muito pedantismo enquanto falta humildade. Ouço e leio pessoas se expressando desesperadas, tentando provar pra si mesmas que têm razão. O outro é sempre uma fronteira deformada, um inimigo em expansão.

Por isso, tenho escrito mais sobre sensações do que tentado conjecturar pela palavra. Talvez reconhecer esse eu machucado pela solidão e pelo pessimismo de nosso tempo possa ser a chave para encontrarmos novos elos coletivos, com mais sutileza e menos prepotência discursiva. Tenho tentado entender o que é possível no silêncio das palavras não publicadas, sussurradas de modo que o meu jeito lento possa dar conta de internalizar. Sem a brutalidade de quem se exige respostas. 

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O azul das águas molda a vermelhidão das rochas. Não se sabe, ao certo, quando tudo começou ou se, uma dia, haverá um fim. Só conhecemos essa harmonia que conecta movimento e solidez: a vida petrificada que se conserva na impermanência.

O mar e a rocha se modificam enquanto se repetem. As águas dançam sobre as pedras ensolaradas enquanto o tempo faz questão de continuar.

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Escrever tem a ver com aquilo que nos aciona. Pode ser sobre um pequeno movimento que locomove alguma coisa dentro da gente. Ou sobre aquilo que a gente vê, deixa passar despercebido, mas não apaga.

Escrever pode ser simples. Uma gota de chuva na pétala que, despretensiosamente, mobiliza uma memória ou mesmo uma sensação de presença; aqui e agora.

Uma palavra disposta a desembrutecer a gritaria inaudível de nosso tempo.

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a palavra está desalinhada no caos do meu sossego

foge da assertividade de quem tem pouco a dizer

nunca imaginei a palavra muda enquanto a injustiça goteja

sobre a gritaria costumeira lá fora

a palavra se debate no mar do meu silêncio

e é livre para desenhar qualquer coisa: inconsciente e volúvel

como quem não teme a si mesma.

 

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