retina
a cor da noite é invisível
quando cai sobre a retina
como pálpebra em pleno voo
rasgando céu sem horizonte
chuva silenciosa que cria leitos
salga a terra e o vulto no espelho
a cor da noite é invisível
quando cai sobre a retina
como pálpebra em pleno voo
rasgando céu sem horizonte
chuva silenciosa que cria leitos
salga a terra e o vulto no espelho
a flor de hibisco
pétala morta
no abismo da louça
dissolve o veneno da manhã
as palavras, por si mesmas, se exaltam
como sopro quente nos ouvidos
fazem tremer a xícara na mão
o vigor velado da palavra
não apaga a dor do tempo
nem névoa lavanda
ou mil campos imaginários
ladeados de verde - o frescor da promessa
a volúpia forjada pela palavra
incapaz de decifrar a linguagem
incrustada nas camadas de pele e vento
que se inscrevem antes que a palavra seja
a delicada presença do agora
tateada pela aspereza das mãos
a pele fina percorrida
pela sutileza do lábio
a silhueta da fruta que
amanhece encharcada
pelo orvalho e suor
da noite que precede
a claridade do teu adormecer